Transcrição dos Manuscrito” Apontamentos da Visita Episcopal de 1886 na Província
do Espírito Santo D. Pedro Maria de Lacerda”
Nos dias 23 e 28 de novembro de
1886, conversou com o Vigário de Manhuaçu sobre as divisas dos estados do Espírito
Santo e Minas Gerais envolvendo as áreas
dos Bispados de Mariana e do Rio de Janeiro. Sita que um erro no documento do
Vigário fazia a Matriz de Manhuaçu estar no Estado do Espírito santo.
(Extraído do Volume 3 - 24 de julho de 1886 a 28 de março 1887)
Terça-feira
23 de Novembro: Disse Missa.
Mais tarde fiz prática ou sermão e crismei 36 pessoas. O Pe. Rafael saiu para
dizer Missa e dar comunhão a uma enferma que não pôde vir, e mora além do rio
uma légua já no Bispado Marianense. Foi ele por ter privilégio como Missionário
Jesuíta. Veio visitar-me o Vigário de S. Lourenço
de Manhuaçu Pe.
Manoel Moreira da Silva. Mostrei-lhe a resposta autógrafa do Sr. Bispo Viçoso em resposta
à minha consulta de 12 de Outubro de 1872 na qual me diz que o Príncipe é do Bispado
do Rio de Janeiro e li-lhe cinco documentos oficiais (cópias) em que se diz
abertamente que Príncipe é Província do Espírito Santo e José Pedro é divisa
das Províncias. O Vigário reconheceu que assim deve ser e que errados vão os
que pensam diversamente, e ele era um desses, e tem administrado Sacramentos da
banda de cá, por pensar que não o Rio mas as vertentes é que separam Províncias
e Bispados. Deu-me para ler um Tratado de Geografia descritiva especial da
Província de Minas Gerais por José Joaquim da Silva publicado no Juiz de Fora
em 1878. Eu a não conhecia; tem 178 páginas (em formato de 1 palmo) dá
bastantes notícias; mas infelizmente tem erros, e até contra a mesma Província,
por exemplo diz que a divisa é pela margem esquerda do Manhuaçu até sua barra
no Doce; não é tal e pelo con[p. 217]trário Minas alarga-se um pouco
mais. Diz que o Manhuaçu deságua no Rio Doce no ponto da divisa de Minas com
Espírito Santo; não é assim, pelo contrário deságua mais acima da divisa, que é
a pedra do Urubu mais rio abaixo onde eu estive em 1880 e é reconhecido pelos
moradores do lugar.
Quinta-feira
25 de Novembro: Disse Missa,
e mais tarde crismei 2 crianças. Não saí hoje mesmo por causa da roupa lavada.
O Vigário de S. Lourenço do Manhuaçu voltou hoje. Vai convencido que ao menos
no curso superior do José Pedro, este separa as Províncias; vai tendo visto a
letra de D. Antônio Viçoso Bispo de Mariana, que me disse parecer-lhe ser o Príncipe
do Bispado do Rio de Janeiro; leva o seu Tratado de Geografia de Minas [p.
218] corrigido por mim com vantagem de Minas, cujo território o mesmo
Tratado diminui; vai tendo visto contradições no mesmo Tratado, e convencido
que tal livro em vez de dar o Príncipe a Minas deveria tirar de Minas a própria
Matriz de Manhuaçu, porque erradamente diz que as Províncias se dividem pela margem
esquerda do Manhuaçu das cabeceiras deste até sua barra no Doce. Volta o
Vigário persuadido que não deve Minas pretender o alto José Pedro como sendo
todo Mineiro. O Vigário me contou horrores do tal Fr. Miguel Ângelo... que
andou por sua Freguesia... Hoje estive quase a ir ver a cascata chamada do
Germano, duas léguas daqui rio abaixo, mas... não fui. Além desta cascata há
outra mais longe chamada da Fumaça. Germano é nome de um morador ali; Fumaça é
porque em razão da altura da queda.